Dignidade do Trabalho

Prezados Diocesanos, 
Aproveito este mês de maio, tão rico de celebrações, especialmente marianas, para refletir sobre o esposo de Maria, que é lembrado logo no primeiro dia deste mês, como “São José Trabalhador” ou “Operário”.

Vamos conhecer um pouco as motivações da Igreja para inserir no calendário litúrgico esta festa de São José, que passa a ser padroeiro dos trabalhadores. 
 
A festa de São José Operário é um clamor para que o trabalhador não seja escravizado por uma estrutura injusta e covarde que tudo manipula, usa e diminui em vista do lucro acima da dignidade humana. 

No dia 1º de maio de 1955, o Papa Pio XII instituiu a festa de São José Operário. A Igreja, de forma inequívoca, demonstra o quanto deseja estar próxima dos trabalhadores, oferecendo-lhes um grande modelo e intercessor. A Igreja considera também, com esta festa, o quanto é importante o trabalho que nos santifica e dignifica. Recordemos que, na linguagem simbólica no Livro dos Gênesis, Deus é apresentado como o “Divino Oleiro”, “Criador” e “Construtor”, que concluiu sua obra e viu que era bom (cf. Gn 1,31). 

O Magistério da Igreja, através da Doutrina Social, elaborada ao longo dos tempos, como por exemplo, na Encíclica Laborem Exercens, de São João Paulo II, destaca a importância do trabalho (cf. LE, 3). 

Temos muito que aprender com São José Operário: sua responsabilidade profissional de homem íntegro e trabalhador, como também, seus cuidados e atenção para com a família, tornando-se igualmente exemplo para todos os pais de família. 

Podemos dizer que Deus se revela no rosto de cada trabalhador, que vive com suor de seu trabalho, mantendo sua família com honestidade. Infelizmente, não percebemos o mesmo por parte daqueles que querem ganhar a vida fácil, sendo desonestos, enganando e ludibriando os outros. 

Em nossa diocese, pela rica história de empenho pastoral em favor dos operários e trabalhadores, continuamos, mesmo que de forma discreta e sem comprometimentos político-partidários ou ideológicos, a contribuir com nosso povo trabalhador, diante dos desafios que enfrenta na busca de trabalho e salário digno, para que todos sejam respeitados em seus direitos.  

Causa também estupor e profunda tristeza o que nos chega através da mídia, quanto aos acontecimentos tão impactantes no que se refere, em pleno século XXI, a seres humanos tratados com desprezo e coisificados por outros em busca de vil lucro. Refiro-me às condições análogas à escravidão, como também, às atitudes revoltantes de menosprezo ao simples trabalhador que, com o suor do seu rosto, busca seu sustento.  

Certas posturas de uma parcela da sociedade que se considera privilegiada e, provavelmente, o é de forma desonesta e cínica, tratando seus funcionários, seres humanos que labutam no dia a dia, com preconceito, só demonstram o alto nível de desumanização dos que se acham melhores que os outros. Podemos dizer que, apesar de seus privilégios sociais e materiais, são as mais pobres criaturas, por faltar-lhes amor, compaixão e solidariedade. Estão na antecâmara mais baixa da humanidade. Deveriam, por conta dos privilégios adquiridos, contribuir e muito para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. 

A Igreja, a fim de nos exortar ao respeito para com o trabalhador, propõe para reflexão o Evangelho que narra o quanto o preconceito nos cega. Jesus, um filho de carpinteiro, foi desacreditado em sua própria terra e, por conseguinte, não realizou milagres. Quando não acreditamos nas pessoas, tiramos delas a oportunidade de mostrar seus dons e talentos. Quantas vezes, roubamos dos irmãos a oportunidade de contribuir em nossas comunidades por conta de nossas atitudes suspeitas de inveja e menosprezo? Nem sempre acreditamos no potencial de nossos irmãos ou colegas de trabalho. O preconceito ao ver Jesus, um filho de carpinteiro, ainda hoje existe, por muitas vezes se achar que gente simples e de profissão simples, não é capaz de contribuir com tanta sabedoria no anúncio do Evangelho. 

Toda vez que duvidamos da capacidade do outro, de uma certa forma, dificultamos a possibilidade dele se revelar em toda a sua potencialidade. Procuremos valorizar os dons e talentos dos nossos irmãos!

Aprendamos com São José a nos dedicar com humildade e responsabilidade às nossas tarefas, a valorizar nossa família e a amar o próximo na solidariedade e compaixão. 

+ Luiz Henrique da Silva Brito 
Bispo de Barra do Piraí-Volta Redonda