Pascalidades - Compromisso Ético e Espiritual

Irmãos e Irmãs,

“Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto” (Cl 3,1)

Com louvores e renovado sentimento de vitória no Cristo Ressuscitado, celebraremos mais um tempo pascal.

Nossas comunidades retomam uma atmosfera mais festiva, alegre e de exultação, porque a morte e as cadeias do pecado foram superadas com a entrega de Cristo e, na sua vitória, também somos chamados a participar.

A tradição litúrgica, ao longo da história, nos ensina a entender a Páscoa como caminho pessoal de sucessivas passagens transformadoras e profunda renovação interior. Usarei aqui esses momentos de verdadeiros encontros com o Ressuscitado de “pascalidades”, ou seja, passagens libertadoras, no sentido de oportunidades reais, profundas e marcantes na nossa caminhada de fé, verdadeiros momentos de conversão e mudança de vida.

Paulo, dirigindo-se aos Colossenses, tem como proposta este caminho ético e espiritual: esforçarmo-nos para alcançar as coisas do alto. Evidentemente, não se trata de entender as “coisas do alto” com uma vida dissociada da realidade, a construir uma religiosidade etérea, desencarnada, sem compromissos com uma sociedade de justiça, fraternidade e paz.

O buscar as coisas do alto tem a ver com escolhas, decisões maduras e responsáveis, como também, relações saudáveis onde verdadeiros encontros de fraternidade, amor oblativo e compaixão se tornem cada vez mais presentes em nossas vidas. Em Cristo Ressuscitado, fomos libertos do poder do mal. Recorda a Sacrossanctum Concilium (SC) 5 que, “pelo Batismo, os homens são efetivamente enxertados no mistério pascal de Cristo: morrem com Ele, são sepultadas com Ele e ressuscitam com Ele”.

A partir de nossa condição batismal, podemos afirmar que nossa existência deve se desdobrar em sucessivas pascalidades, ou seja, em consequências práticas na busca verdadeira de Deus; Seu Reino, que é Justiça e Paz, rumo à Eternidade, sem negligenciar as atividades terrenas. Recorda a Gaudium et Spes 57 que “os cristãos, peregrinando para a cidade celeste, devem buscar e provar as coisas do alto, o que em nada diminui a importância da obrigação que lhes incumbe de trabalhar com todos os homens na construção de um mundo mais humano”.

A Campanha da Fraternidade deste ano abordou o tema "Fraternidade e Amizade Social", inspirada na encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco. Ela destacou a importância de nos reconhecermos como irmãos e irmãs. A experiência da ressurreição visa impulsionar nossas ações, levando-nos a proclamar a vitória de Cristo por meio de gestos de solidariedade e da capacidade de compreender a realidade do outro com suas perspectivas individuais, reconhecendo a riqueza desse diálogo que torna o ser humano capaz de perceber e acolher as contribuições daqueles que pensam de maneira diferente. 

Cristo é a nossa Paz e quer gerar com sua mensagem salvífica um mundo novo construído no encontro, abrindo-nos a potencialidades adormecidas de compaixão, doação e entrega solidária. 

Que essa profunda experiência de encontros e transformações permeiem nossa existência de muitas pascalidades como testemunhas do Ressuscitado.

O Senhor é nossa força!

+ Luiz Henrique da Silva Brito

Bispo Diocesano