Ascensão, tempo da Igreja
Jesus se despede de seus discípulos, mas não se trata de um adeus. Compreendemos que, a partir deste momento, a Igreja de Jesus é chamada a expressar Sua presença como foi prometido pelo nosso Mestre.
Em Mc 16,20, o evangelista atesta que “os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam”.
Entendemos através desse versículo do Evangelho de Marcos que a presença de Jesus é continuada na humanidade através de seus discípulos, ou seja, da Igreja fundada por Ele.
A Ascensão, portanto, significa essa presença de Cristo de outra forma. Um exemplo é a Eucaristia que recebemos como remédio salutar e adoramos como presença real. Podemos dizer que se inaugura um tempo de presença nova, mais intensa e dinâmica do Senhor. O Papa Francisco ao referir-se ao momento da Ascensão nos exorta: “Ao subir ao Céu, em vez de ficar perto de poucos com o seu corpo, Jesus faz-se próximo de todos com o seu Espírito. O Espírito Santo torna Jesus presente em nós, para além das barreiras do tempo e do espaço, para nos tornar suas testemunhas no mundo.”
A presença do Mestre acontece através dos seus discípulos, testemunhas do Ressuscitado. O mundo tem sede de testemunhos, muito mais que as palavras, recorda bem Santo Antônio “cessem as palavras, falem as obras”. Os “mártires” de hoje estão em toda parte e são os santos e santas dos nossos tempos, deixando belíssimos sinais de Cristo no mundo em forma de caridade, luta por um mundo melhor, educação, trabalho missionário, cuidado com casa comum e atenção para com os que precisam de lenitivo espiritual diante das realidades complexas e desumanizadoras existentes.
Esse martírio é cotidiano e podemos mencionar grandes exemplos, tais como, os pais, educadores da fé e todos os homens e mulheres que sofrem preconceitos e incompreensão pela fé que professam. São Paulo VI recordava que “o mundo tem necessidade de testemunhas mais que mestres”. Temos também os grandes exemplos dos profissionais liberais cristãos a fecundar suas atividades no cuidado, solidariedade e demais atividades humanas iluminadas pelo Evangelho da Vida.
É essa Igreja de Jesus que possui traços essenciais em sua estrutura: os apóstolos e seus sucessores Bispos, o Espírito intérprete da Palavra de Cristo, os destinatários, ou seja, vida missionária. Uma Igreja que harmoniosamente procura conjugar Instituição e Carisma, feita de homens frágeis que carregam um precioso tesouro em vasos de barro, recorda o apóstolo Paulo. Essa Igreja é visível, Corpo de Cristo e Sua Cabeça é o próprio Senhor, isto é, uma Igreja terrestre enriquecida de bens celestes que é “a sociedade dotada de órgãos hierárquicos e o corpo místico de Cristo, a assembleia visível e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre e a Igreja já na posse dos bens celeste constituem uma realidade única e complexa em que se fundem o elemento humano e o elemento divino” (LG 8).
Essa Igreja de Cristo é a Igreja da esperança porque confia nas promessas do Senhor: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo”.
A Igreja de Cristo não esmorece porque acolhe o Dom do Alto: “Recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós para serdes minhas testemunhas”.
Essa é a nossa Igreja onde acolhemos a fé e somos formados, razão de nossa alegria em Cristo, nosso Senhor. (Cf. Ritual da Crisma).
+ Dom Luiz Henrique da Silva Brito
Bispo de Barra do Piraí - Volta Redonda